terça-feira, 29 de maio de 2012

Dual..


Hoje eu tô assim, dual! Vítima da sensibilidade e refém da impulsividade que em mim habitam. E lembrei-me deste texto da amada Celete, escritora, amiga e mestra! Ele expressa meu estado de espírito hoje.. Talvez um dia eu consiga ser indiferente às mazelas humanas, mas hoje está doendo..

Dual

Sou do tipo de pessoa que sofre, se envolve, se culpa, sente remorso pelas mínimas coisas. Uns dizem que éfrescura, outros, sensibilidade. como sou um pouco romântica, prefiro acreditar que sou sensível.
Mas como dói esta sensibilidade, arde nas veias, no peito, na mente, a cada palavra não compreendida, a cada gesto sufocado, a cada olhar não correspondido, a cada sonho desfeito, acada missão cumprida, a cada carência não suprida.
Ser sensível é se ferir a todo momento na palavra dita na hora errada, no sorriso de desdém, no descaso, no malamar, na ternura não encontrada; é sofrer muito, é chorar pelas pequenas coisas e não ligar para as consideradas ( pelos outros) grandes.
Ser sensível é falar pouco, é sentir muito, é ficar morto de felicidade ao descobrir que há alguém capaz de nos entender e começar a sofrer desesperadamente, a partir desse momento, com medo de perder este alguém.
Ser sensível é ficar sem palavras quando nos agridem, para depois calmamente ironizar, ofender até talvez com-sem intenção e ficar mais magoado e sofrido que o atingido.
Ser sensível é ser empático, é sentir a dor, a vergonha, a ânsia do outro e sofrer por ele e com ele.
Não... a sensibilidade não é algo ruim. Tem o seu preço, só isso. Eu não gotaria jamais de deixar de ser sensível.
Sofro, sofro sim, sofro muito, sorvo cada gota da minha amargura, do meu desespero. Exercito assim meus sentimentos, a minha capacidade de sentir, para que nos momentos de felicidade eu também a sorva até a última partícula e me entregue inteira à alegria. Sim, ser sensível é também se alegrar, é ficar feliz com os detalhes, com quases.
Ser sensível é não saber esprimir a sensação inebriante da brisa roçando o rosto, é correr pela praia deserta e sentir a paz da solidão.
Ser sensível é ficar horas de mãos dadas sentindo o outro fluir em nós num êxtase puro e limpo.
Ser sensível é sentir uma alegria indefinível ao olhar uma revoada de pássaros; é cantar com ternura uma cantiga de ninar ao imaginas nos braços o filho sonhando e é viver e sorrir no sonho.
Ser sensível é acreditar na sensibilidade do outro sabendo-o quase impossível.
Ser sensível é ter fé no quase e ignorar o impossível.


Maria Celeste Rodrigues